terça-feira, 29 de setembro de 2009

29/07/2009 - Lixo é pesadelo em 98% dos municípios

O lixo traz doenças e degradação para os municípios. Apesar de despertar a ira de entidades ambientais e Ministério Público, ele tem se acumulado na Capital e em cidades do interior de Goiás que ignoraram solenemente a Constituição Federal e não realizam adequado descarte dos resíduos sólidos. Ontem, a promotora Marta Moriya recomendou que a Prefeitura de Goiânia dê solução mais adequada ao lixo hospitalar acumulado no Aterro Sanitário de Goiânia, localizado na Rodovia GO-060 (saída para Trindade), Chácara São Joaquim.

A promotora informa que desde dezembro de 2008 foi desativada a unidade de tratamento de resíduos sólidos de saúde, sendo que diariamente chegam entre 6 e 8 toneladas no local. Este lixo costuma ser depositado em valas sépticas no Aterro de Goiânia oferecendo ameaças aos lençóis freáticos. Anteriormente, a empresa Qualix Ambiental realizava os serviços para a Prefeitura de Goiânia, mas uma série de denúncias levou ao fim do contrato. Hoje, o lixo hospitalar (o mais perigoso e tóxico depois do radioativo) é descartado em valas sépticas, sendo que o ideal seria o sistema de incineração ou autoclave, conforme orientam recentes resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Se a situação de Goiânia não é das melhores, imagine o interior do Estado. Poucos municípios apresentam condições de tratamento dos resíduos. Para piorar, o órgão ambiental do governo de Goiás, responsável pela fiscalização, não tem quadros para executar o serviço. É possível contar nos dedos as cidades com aterros. Apenas Goiânia, Senador Canedo, Rio Verde, Anápolis e Aparecida de Goiânia chegaram no estágio dos aterros. Entretanto, cerca de 98% dos municípios ainda permanecem no medieval sistema do “lixão”.

Alto Paraíso, polo turístico, cidade caracterizada pela fama de santuário ecológico, por exemplo, sofre com o depósito de lixo localizado a menos de 10 km do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. A falta de orientação, e conhecimento técnico, fez com que o município produzisse um dos piores e mais perigosos lixões do País: ele está situado em região alta, acima das nascentes e próximo a uma área de preservação. Está simplesmente tudo errado. A mudança do aterro é uma luta antiga dos ambientalistas, ONGs e Ministério Público, mas o monte de lixo continua lá – incólume, robusto e cada vez maior.

Cleomar Rosário, gestor ambiental especialista em resíduos sólidos, afirma que as cidades colocam em risco a saúde da população. “O rio, o lago, enfim, os mananciais são espaços naturais que devem ser preservados a qualquer custo. A água é um bem econômico, um recurso não renovável e que está ameaçado na maior parte dos municípios de Goiás. A qualidade da água afeta diretamente a situação de saúde da população. Se economiza no meio ambiente, vai gastar dobrado no Sistema Único de Saúde (SUS)”, alerta.

A promotora Sandra Garbelini, que fiscaliza a ação dos municípios no interior, afirma que os municípios alegam não ter condições financeiras para assumir a responsabilidade da correta adequação do lixo. “Em compensação, a Funasa e Ministério do Meio Ambiente, que liberam recursos para a construção dos aterros, afirmam que os municípios não apresentam planos e projetos adequados”, diz.

O maior problema é a falta de qualificação. Os municípios não investem em técnicos capazes de resolver a situação e “levam com a barriga” a questão do lixo. Bela Vista, por exemplo, chegou a ser acionada na Justiça pelo descuido. O município foi multado em R$ 100 mil. “A situação se agravou na gestão passada. Agora, o lixo de Bela Vista está sob controle. Estamos realizando todo o tratamento e descarte adequado”, diz o prefeito Eurípedes José do Carmo. Ele afirma que sabe das dificuldades em manter um aterro e reconhece que a cidade não oferece o melhor serviço para a população, mas apenas aquilo dentro das possibilidades financeiras e orçamentárias.

Segundo Sandra Garbelini, Bela Vista é o caso típico de município que conseguiu recursos para constituir o aterro e deixou que o depósito de lixo se restabelecesse. Em Alto Paraíso, a situação é desesperadora. Existe a suspeita de que a qualidade da água das nascentes do Rio São Bartolomeu, próximo ao depósito de Alto Paraíso de Goiás, esteja literalmente podre. O próprio Ministério Público Federal já acionou o Estado de Goiás e o município para que revertam a situação de lixão para um aterro sanitário controlado.

Comurg anuncia licitação para o próximo mês
Wagner Siqueira, presidente da Comurg, órgão responsável pelo Aterro Sanitário de Goiânia, afirma ao Diário da Manhã que o tratamento do lixo hospitalar com vala séptica não é a melhor opção, mas está dentro das normas técnicas e ambientais: “É uma solução paliativa. Teremos em agosto uma licitação, e a prefeitura dará melhor tratamento ao lixo.” A concorrência pública vai selecionar empresas e equipamentos que possam incinerar o lixo. Ele afirma que a companhia tem intenção de realizar um tratamento adequado para o lixo e já vem realizando um “procedimento legal”, além de correta destinação de chorume.

A promotora Marta Moryia Loyola recomenda que sejam implantadas as unidades de tratamento de resíduos de serviços de saúde de forma a atender a Resolução Conama nº 358/05. Além disso, a promotora quer que a Comurg desative a vala séptica e proceda à impermeabilização do local.

Outra recomendação do MP é que seja implantado sistema de drenagem de águas pluviais e seja realizado um projeto de revegetação das áreas de disposição final de resíduos sólidos que já se encontram desativadas. (Fonte: Diário da Manhã)

Fonte:http://www.mp.go.gov.br/portalweb/conteudo.jsp?page=9&base=9&conteudo=noticia/9077d646a33b5c71a87b4783b98ad217.htmlem 29/09/09 as 16:30
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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Para onde vai o lixo dos hospitais?

www.olharvital.ufrj.br
Edição 152
13 de novembro de 2008

Por uma boa causa
Para onde vai o lixo dos hospitais?
Marcello Henrique Corrêa

Gazes, seringas, curativos e ataduras não são elementos fáceis de encontrar nas latas de lixo do brasileiro comum. Resíduos desse tipo são provenientes de hospitais e postos de saúde; são restos de procedimentos como cirurgia e exames de sangue, que integram o grupo classificado como Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) ou simplesmente lixo hospitalar. O cuidado, o procedimento, a separação e a destinação desses detritos são temas abordados hoje pela segunda reportagem da série “O que fazer com esse lixo?”, de Por uma boa causa.

No Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), na Cidade Universitária da UFRJ, cerca de duas toneladas de lixo são produzidas por dia, entre lixo hospitalar e comum. Enquanto nas salas de cirurgia o lixo é composto por material possivelmente infectado por agentes transmissores de doenças, setores administrativos produzem lixo normal: papel e copinhos de café como em qualquer escritório.

Separar esses dois tipos de resíduos é uma das preocupações e tarefa da equipe orientada por Ângela Villas Boas, diretora da Divisão de Atividades Gerenciais e coordenadora do Programa de Gerenciamento de Resíduos (PGRSS) do HUCFF. “Hoje existe uma política interna de separação de papelões, papéis de escritório, alumínio e outros produtos recicláveis. Os resíduos de áreas de laboratórios especializados, como material de raios-X e medicina nuclear, já são separados e acondicionados em recipientes apropriados para encaminhamento a empresas especializadas”, explica Ângela.

Destinação

Procurar a melhor forma de descarte de lixo hospitalar é uma tarefa que vem sendo desempenhada há mais de uma década no HU, de acordo com a coordenadora. Segundo ela, faz 12 anos que se pensa em técnicas eficazes de destinar esses resíduos. “Nessa época foi experimentada a destruição do material através do processo de incineração. O equipamento era baseado em uma tecnologia de maçaricos alimentados por oxigênio e alcançava temperaturas de até 1.200 ºC para queimar o material”, relata a diretora, acrescentando que o projeto se sustentou por apenas três anos, por razões econômicas.

A função do PGRSS, criado há dois anos, é encontrar um meio economicamente viável e ambientalmente correto para descartar esses resíduos. De acordo com Ângela, já está em fase de implantação de métodos que segregam o lixo infectante e possibilitam o tratamento necessário. Esse tratamento é fator importante para os casos em que os RSS precisam ser encaminhados para aterros sanitários, como ocorre com parte do lixo do HU. “Existem hoje várias tecnologias que podem diminuir em muito a carga contaminante destes resíduos antes do encaminhamento a aterros sanitários”, expõe a coordenadora, admitindo, porém, que a incineração ainda é a técnica mais segura.

Impacto ambiental

Há cerca de dois anos, foram encontrados resíduos hospitalares a céu aberto no aterro sanitário de Gramacho. O episódio causou a preocupação da sociedade sobre os riscos que pode representar o descarte irregular. Para Ângela, contudo, a atenção deve ser redobrada, não só no que diz respeito aos RSS, mas em relação a quaisquer detritos que, sem o devido cuidado, se transformam em uma “fábrica de doenças”, como chamou a diretora. “Esse tipo de acumulação de lixo provoca o aparecimento de ratos, baratas e moscas, transmissores de doenças. Além disso, o chamado chorume, líquido altamente nocivo, é produzido e acaba infectando os lençóis freáticos, trazendo sérios transtornos à saúde e à agricultura”, comenta.

No caso dos resíduos infectantes vindos dos serviços de saúde, o cuidado é ainda maior, pois se trata de material potencialmente infectado pelos mais variados transmissores de doenças. Para isso, o HUCFF trabalha para evitar acidentes e contaminações, colocando os resíduos em sacos plásticos grossos e embalagens especiais, como prevê a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Fonte:
www.olharvital.ufrj.br
Edição 152
13 de novembro de 2008
Em 22/09/09 as 20:20
PCL